O primeiro golpe do bolsonarismo

Da Redação
É perigoso o precedente que se estabeleceu com o afastamento de Wilson Witzel nessa última sexta. O governador do terceiro estado mais populoso do Brasil foi afastado a partir de uma decisão monocrática de um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, cautelarmente, sem inclusive ter a chance de apresentar qualquer tipo de defesa.
O descalabro jurídico encontra explicação no pesado jogo político que vem sendo travado entre Bolsonaro e os Governadores dos Estados, que ao que parece vem, nos últimos meses, dando vantagem ao capitão. Antes de tudo é bom relembrar que Bolsonaro desde antes da pandemia vinha enfrentando o contraponto político dos governadores, tanto a direita, quanto a esquerda.
Por motivos estritamente econômicos, como prejuízos econômicos que a gestão dos bolsonaros vem impingindo aos Estados. Não custa lembrar de seus arroubos contra a China. Ou por motivos eleitorais e disputa no comando político no âmbito da direita, como no caso de Dória e do próprio Witzel.
Durante a pandemia, a irresponsabilidade de Bolsonaro ampliou esse fosso, o que teve como resultado imediato a queda de popularidade de presidente e a subida de alguns governadores, elogiados e tidos como sensatos.
A extensão da pandemia e do isolamento social fez com que os governadores, pressionados pelo empresariado, começassem a flexibilizar também sua posição de combate ao vírus. É possível dizer que Bolsonaro reaglutinou parte de sua base empresarial por ser radical no retorno imediato e sem muitas concessões ao combate a COVID 19.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro ganhou espaço entre a população mais pobre alcançada pelo auxílio emergencial, que já está garantido até o fim do ano.
A operação contra Witzel não pode ser vista fora desse contexto. Pois os setores bolsonaristas da Polícia Federal, MP e Judiciário só teriam condição de impor uma agenda de acusação de corrupção contra governadores num cenário de aumento de popularidade de Bolsonaro.
Obviamente que começar o ataque contra Witzel é funcional pois neutraliza setores com capacidade de reação, que não se disporiam a defender um governador que não se priva de defender a barbárie como política de segurança pública.
Mas a questão é mais complexa, e por isso a trama bolsonarista fica mais explicita. É preciso mudar o comando do Estado. E se a figura de Claudio Castro não atender aos interesses bolsonaristas é preciso se livrar o quanto antes de Andre Ceciliano do PT, presidente da ALERJ e na “linha sucessória” do governo do ESTADO.
O bolsonarismo dá um passo importante na consolidação da sua posição no comando da extrema direita, e para isso não se furta de atropelar qualquer tipo de resquício de democracia.
A esquerda não pode titubear em denunciar a queda acelerada de Witzel como um golpe bolsonarista na democracia como um todo. Mais do que isso, um atentado a soberania popular. É evidente que derrubada monocrática de governadores acusados de corrupção se torna uma importante carta na manga para o bolsonarismo jurídico.
Em segundo lugar não custa lembrar que Witzel governa o Estado em que os Bolsonaros são mais frágeis. O desenrolar das investigações deixará ainda mais evidente o envolvimento da família com o crime organizado. Ou seja, no plano da política, uma suposta queda de Bolsonaro passa por acusações a mal feitos do passado no Estado.
Por fim, evitar a interferência nas investigações do caso Marielle, já tentada por Moro.
Seguir o rito do processo de impeachment é a posição mais acertada, garantido a população, caso o governador seja cassado, o direito de decidir o programa político que governará o Estado do Rio de Janeiro.
É importante não ter dúvida de que derrotar o bolsonarismo, e não só o Bolsonaro, é a tarefa principal.