Algumas hipóteses sobre a aprovação de Bolsonaro

Por Maykon Santos*
O crescimento da aprovação de Bolsonaro após se manter estável durante toda a pandemia surpreendeu muitos.
Não a mim. Em julho escrevi um artigo aqui mesmo no Voz da Resistência sobre a, então, estabilização da aprovação do (seu) presidente e apostando que ela iria subir.
Para entender os números nacionais é necessário olhar para clivagens de região, faixa de renda, ocupação, gênero e raça.
Assim, a partir de hoje publico por esses agrupamentos a aprovação e a reprovação (ruim e péssimo) do governo Bolsonaro para entender este fenômeno em sua complexidade.
Começo pelas regiões.
O Sul e o Centro-Oeste/Norte do país são as regiões que sempre deram para Bolsonaro uma aprovação maior do que a média nacional. E, ao mesmo tempo, uma reprovação menor do que a média nacional.
Ao final do primeiro ano a aprovação nacional era de 30%, já no Sul 40% e no Centro-Oeste/Norte era de 31%.

No começo da pandemia aprovação de Bolsonaro havia subido um pouco (para 33%) nacionalmente. E crescido bem acima da média nacional no Centro-Oeste/Norte (de 31% para 41%). Possivelmente, um primeiro impacto da Renda Básica Emergencial da qual muitos dependem, principalmente na Região Norte (veremos que algo semelhante ocorreu no Nordeste). Depois caiu em maio e junho e subiu em agosto. Nessa região a aprovação de Bolsonaro está 5% acima da média nacional agora (37% x 42%) e subiu 11% entre entre dezembro de 2019 e agosto de 2020.
Já a reprovação caiu de 38% para 25%, a segunda maior queda nesse quesito em todo o país
Já no Sul a aprovação caiu em abril e maio. Mas voltou a subir e está em 42%. Já a reprovação alcançou um pico de 39% em maio e caiu para 31% em agosto. Mas está acima dos 28% de dezembro de 2019.
No Sudeste a aprovação de Bolsonaro acompanha um pouco a média nacional e seus movimentos (subida até abril, estabilização e queda com nova subida). Já a reprovação alcançou um pico de 47% em junho e caiu para 39%. Mas está acima do que era em dezembro de 2019.
O Nordeste é o local que viu a maior subida da aprovação e a maior queda da reprovação no período. Em dezembro de 2019 apenas 20% aprovavam o governo Bolsonaro. Este número subiu para 33% em agosto. Já a reprovação caiu de 50% para 35%.
O Nordeste é também a região que tem o maior percentual de pessoas que recebem até 2 SM (66%). No Sul, por exemplo, esse número é de 43% e no Sudeste de 45% e que vivem de bico (16% lá contra 9% no Sul e 10% no Sudeste).
Nacionalmente temos dois movimentos que explicam a estabilização da aprovação de Bolsonaro (e que veremos em mais detalhes em outro texto):
Um que ocorre no nível da renda.
A subida constante da aprovação entre os que recebem até dois salários mínimos (era 22% em dezembro de 2019 e agora são 35%), entre os assalariados sem registro (era 25% em dezembro de 2019 e agora são 34%), os assalariados com registro – lembremos que no Brasil a imensa maioria destes ganham até 2 salários mínimos – entre os quais a aprovação era de 31% em dezembro de 2019 e agora é de 42% e os desempregados procurando emprego (nesse setor a aprovação era de 21% em dezembro de 2019 e, agora, é de 36%).
A recuperação entre os quais a aprovação de Bolsonaro mais caiu nos dois primeiros meses da pandemia que são aqueles que recebem entre 5 e 10 SM (ela era de 44% em dezembro de 2019 e caiu para 33%, subindo para 40% em agosto) e os que recebem acima de 10 SM (ela era também de 44% em dezembro de 2019 e caiu para 34% em junho de 2020 e subiu também para 40%).
Outro que ocorre no nível da conjuntura.
Quando a aprovação de Bolsonaro se manteve estável, ela caia entre os que recebiam mais de 5 SM, como demonstramos. Era o momento em que havia uma nítida divisão entre as atitudes dos prefeitos e governadores e o (seu)presidente. Como também de queda nos rendimentos dessa setor.
A queda nos rendimentos continua. Mas a culpabilização diluiu entre o presidente e os governadores e prefeitos, pois a reabertura da economia e a a falta de medidas de ganhos materiais que partam dos prefeitos e governadores (com raras exceções) acabou com as diferenças entre as esferas de poder no quesito enfrentamento da pandemia. Como também os 5 meses de pandemia faz parte considerável da sociedade entender que é impossível manter o isolamento social. Para mim isso diminui o peso que as pessoas dão ao não prosseguimento do isolamento na avaliação do governo.
*Maykon Santos é professor das redes públicas municipais de Cubatão e Santos, historiador, militante do Círculo Palmarino, do PSOL e em defesa da educação pública de qualidade.